[ad_1]
Por mais que as pesquisas eleitorais captem momento e tendências em relação a candidatos favoritos, o resultado das eleições, com o perdão da obviedade, só se conhece após a contagem dos votos. Isso porque, entre a realização das pesquisas e o momento final de decisão dos votos, há uma infinidade de processos físicos e emocionais que acontecem em nosso cérebro.
Por isso, ao longo dos anos, a psicologia e a neurociência vêm tentando explicar os fenômenos que levam o eleitor a confirmar ou a mudar seu voto durante o processo de disputa eleitoral.
Um dos principais estudos já publicados nessa área, em 2015, foi realizado pela Universidade McGill, do Canadá. O trabalho mostrou que uma região do cérebro —o córtex orbitofrontal lateral— é acionada quando tomamos a decisão de votar neste ou naquele candidato.
O estudo chegou a uma curiosa conclusão. Ele identificou dois padrões: quem combina diferentes fontes de informação e toma decisão com base nelas (portanto, de maneira mais racional) apresentava essa área do cérebro em perfeitas condições. Já quem escolhe com base em apenas um atributo que considera mais atrativo tinha danos nesta região.
Mas, além de fatores físicos ou neurológicos, há elementos psicológicos que influenciam a escolha diante da urna.
Nelson Destro Fragoso, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cita três:
- necessidade de aprovação,
- necessidade de pertencer a um grupo e
- medo de castigo.
Aprovação e pertencimento
Fragoso explica que o humano, um ser social, precisa de apoio e reforço para saber que aquilo que fará é “a coisa certa”.
“Este fenômeno acontece psicologicamente em tomadas de decisão, inclusive com o voto”, diz o psicólogo. “Como as pessoas precisam sentir apoio da sociedade, votam naquele que está sendo mais propagado’.”
É comum que a pessoa tome uma decisão não porque acredita naquilo, mas porque é a opinião do pai, da mãe, dos amigos.
“Muita gente fala que vai votar no candidato A, quando na verdade está propenso a votar no B. É comum ter receio de assumir a posição”, diz Fragoso.
É o que, na linguagem popular, se chama de “efeito manada”.
“Se os amigos são mais de direita ou esquerda, provavelmente a pessoa terá opinião parecida”, exemplifica.
Ele compara isso com hábitos da juventude. Se todo o grupo passa a fumar cigarro, por exemplo, é natural que aquele que não queira aderir ao hábito se sinta excluído. “Somos seres sociais, vivemos em grupo. E, para isso, precisamos da aceitação do grupo e isto interfere em nosso comportamento”, explica.
O psicólogo Helio Roberto Deliberador, professor de Psicologia Social da PUC de São Paulo, diz que o voto de manada “é da nossa cultura”. “Tem parcelas que gostam de votar em quem ganha – e o faz indicado pelas redes e pelas pesquisas. A psicologia social explica isso”, afirma.
Para ele, por isso, é pouco provável que haja surpresa nas urnas na eleição para presidente. “Salvo algum acontecimento muito bombástico, pouca mudança deve haver. Para os cargos executivos creio que o eleitor vai com seu voto definido”, diz.
Por fim, a necessidade de fazer parte de um grupo explica o comportamento em bolhas e os resultados eleitorais que mostram que em determinadas regiões o voto é mais à esquerda, em outras, mais à direita.
Medos
Nem só de vontades se faz um voto. Os medos também exercem um papel importante na decisão do eleitor.
No voto em manada, além da necessidade de apoio e aprovação, há também receio de errar sozinho: caso a decisão não se revele acertada, a ‘culpa’ deixa de ser individual e passa a ser coletiva.
Outros medos também têm papel importante.
Um estudo realizado pela Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, expôs voluntários a imagens assustadoras, como um homem com uma aranha no rosto, e a ruídos altos. As pessoas que tiveram mais reações físicas a esses estímulos (por exemplo, pele arrepiada) tenderam a ter opiniões mais conservadoras – apoiando, por exemplo pena de morte. E quem reagia menos a essas situações tinham posições mais progressistas.
Pesquisa realizada pelo psicólogo Yoel Inbar, professor da Universidade de Toronto, no Canadá, chegou a resultados semelhantes. Ele agrupou pessoas de acordo com uma escala de repugnância —ou seja, de acordo com o nível de nojo que essas pessoas sentiam. E submeteu esses voluntários a um questionário político.
Concluiu que os mais conservadores politicamente são aqueles que têm mais nojo das coisas.
De acordo com o relatório da pesquisa, isso significa que tais pessoas são predispostas a “evitar conviver com aqueles com quem não estão familiarizadas”, “abdicar de uma maior liberdade sexual” e “aderir a práticas mais tradicionais da vida social”. O nojo, portanto, evoca um tipo de medo.
O medo está tão presente em campanhas eleitorais que, segundo Fragoso, isso explica por que as campanhas apostam tanto em “não vote em A” e “não vote em B” – em vez de “vote em mim”.
A tendência de votar no “menos ruim” ou votar em um para que o outro não se eleja foi estudada pelo cientista político Jon Krosnick, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Ele constatou que quanto mais uma pessoa não gosta de determinado candidato, mais ela se sente engajada a participar do debate eleitoral, mirando seus esforços para eleger aquele diametralmente oposto ao tido como “inimigo”.
É isto que explica o fato de que os políticos tentem sempre enfatizar as características negativas de seus oponentes.
E por fim, há o medo da punição. “Fomos educados assim. A religião diz que quem não viver corretamente será punido. Os pais colocam a criança desobediente de castigo ou lhe tiram presentes. E assim por diante”, argumenta Fragoso. “Na hora do voto, a mesma questão: se eleger A em vez de B, poderei ser punido pela minha escolha?
Fake news e prazer
A todo um complexo sistema de tomada de decisões humanas, soma-se um novo elemento nos últimos tempos: as fake news bombardeadas em massa pelas redes sociais.
“A sociedade passa por uma coisa muito difícil que é conseguir resolver quais informações são verdadeiras e quais são falsas”, analisa Fragoso. “Sempre existiu a notícia verdadeira e a paralela, que ganha força. Mas com as redes sociais, ganhou em amplitude e agilidade.”
Estudos apontam que as pessoas tendem a acreditar em teorias conspiratórias para reforçar pontos de vistas que elas já aprovam. Este viés cognitivo é chamado de “distorção da confirmação” e é estudado por acadêmicos como o psicólogo Christopher French, professor da Universidade de Londres.
Uma outra razão que contribui para a disseminação de teorias conspiratórias é a nossa predisposição de achar que grandes acontecimentos precisam de grandes causas. Assim, para qualquer notícia mais relevante, procuramos explicações fantásticas – o que, convenhamos, na vida real, nem sempre é verdade.
[ad_2]
UOL