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“O Rei do Gado”: um novelão de volta no “Vale a Pena Ver de Novo”

Antonio Fagundes (Bruno Mezenga)

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Em entrevista, Antonio Fagundes comenta o retorno de um de seus trabalhos de maior sucesso.

Antonio Fagundes (Bruno Mezenga)
Divulgação Globo / CEDOC

Uma obra que é referência da teledramaturgia brasileira, ‘O Rei do Gado’ está de volta ao ‘Vale a Pena Ver de Novo’ em novembro. A novela – exibida originalmente entre junho de 1996 e fevereiro de 1997 – marcou época e se mantém viva na lembrança do público. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, com direção geral e de núcleo de Luiz Fernando Carvalho, ‘O Rei do Gado’, que já foi vendida para mais de 30 países e coleciona prêmios nacionais e internacionais, conta a história do romance entre o rico dono de terras Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) e a bóia-fria Luana (Patricia Pillar). Ambos são descendentes de duas famílias rivais de imigrantes italianos, os Mezenga e os Berdinazi. 

Dividida em duas fases, a trama começa em 1943, durante o período de decadência do café. Giovanna (Letícia Spiller) vive sob ostensiva vigilância dos pais, Marieta (Eva Wilma) e Giuseppe Berdinazi (Tarcísio Meira). A moça descobre a paixão nos braços de Enrico (Leonardo Brício), filho de Nena (Vera Fischer) e Antônio Mezenga (Antonio Fagundes), inimigos ferrenhos de sua família. Antônio Mezenga é um homem forte, determinado e sofrido. Teve o pai morto na travessia de navio da Itália para o Brasil, no final do século XIX. Conquistou sua lavoura de café com muito sacrifício e costuma vangloriar-se de sua origem e obstinação. Giuseppe Berdinazi, pai de Giovanna, é igualmente passional ao defender seus interesses. Também imigrante italiano e proprietário de uma fazenda de café, vive em guerra declarada com o vizinho Mezenga por causa de uma faixa de terra na divisa das duas fazendas. É um pai severo, porém carinhoso, mas espera que os quatro filhos nutram pelos Mezenga o mesmo ódio que o corrói. Sofre grande desgosto quando Giovanna declara seu amor por Enrico, e aceita o casamento apenas pela promessa de receber o pedaço de terra que disputa há anos. O acordo não é cumprido, e Berdinazi tranca a filha em casa, a sete chaves. O esforço é em vão: Giovanna foge com o marido. O casal começa uma nova vida longe das famílias e dos cafezais. O primeiro emprego dele é como peão boiadeiro numa pequena fazenda. Aos poucos, o rapaz começa a criar o próprio rebanho, e Giovanna dá à luz um menino. 

A segunda fase da novela tem início em 1996, quando o filho de Enrico e Giovanna já é um rico proprietário de terras e de milhares de cabeças de gado. Bruno Berdinazi Mezenga (Antonio Fagundes) – nome que recebeu em homenagem ao tio morto na Segunda Guerra, interpretado por Marcello Antony – é conhecido por todos como o “rei do gado”. Com as referências do pai, escolheu o sobrenome Mezenga para sua assinatura, deixando de lado o Berdinazi e a história de sua família materna. Ele é obstinado pelo trabalho, querido por seus amigos e empregados. Embora casado com Léia (Silvia Pfeifer), e pai dos jovens Marcos (Fabio Assunção) e Lia (Lavínia Vlasak), Bruno é um homem solitário, dedicado integralmente aos negócios. Léia, por sua vez, é amante do mau-caráter e interesseiro Ralf (Oscar Magrini).

Um núcleo importante na segunda fase de ‘O Rei do Gado’ é o de Geremias Berdinazi (Raul Cortez), irmão de Giovanna. Rico e poderoso, seus negócios estão ligados à cafeicultura e à produção de leite. Apesar de muito bem-sucedido, é um homem cheio de culpa por ter construído seu império traindo a família. Arrependido, vive ansioso para encontrar um herdeiro, já que não reconhece Bruno Mezenga como seu sobrinho. Geremias acaba sendo enganado pela impostora Marieta (Gloria Pires), que se faz passar por sua sobrinha, filha de seu falecido irmão Giácomo (Manoel Boucinhas). A moça levanta as suspeitas de Judite (Walderez de Barros), fiel e ciumenta empregada do fazendeiro, que desconfia de que Marieta quer roubar a fortuna do patrão.

O debate sobre posse de terra se amplia na trama quando uma das fazendas de Bruno Mezenga é invadida por um grupo liderado por Regino (Jackson Antunes), um sem-terra contrário à violência e à radicalização do movimento – marcando o tom conciliatório do autor em relação à questão. É um idealista, e seu lema na luta pela reforma agrária é “terra, sim; guerra, não”. O personagem vive um dilema com a mulher, Jacira (Ana Beatriz Nogueira), sua brava companheira na marcha. Saudosa da quietude de uma casa onde possa criar o filho com tranquilidade, ela discorda do ideal do marido de querer resolver o problema de todos à sua volta. A discussão ganha a adesão do incorruptível senador Roberto Caxias (Carlos Vereza), político dedicado, defensor dos direitos das minorias. Muito amigo de Bruno, é a ele que o fazendeiro recorre quando suas terras são invadidas.  

Entre o grupo dos sem-terra está a bela e valente Luana (Patrícia Pillar), a verdadeira sobrinha de Geremias. Sobrevivente de um acidente que matou sua família, Luana desconhece a própria origem. Já no primeiro encontro com Bruno Mezenga, ela desperta o amor do pecuarista, que a emprega em uma de suas fazendas. Tratada com a dignidade e o carinho que nunca teve, Luana se encanta por Bruno, e os dois se envolvem numa forte história de amor.

Além da história envolvente, ‘O Rei do Gado’ também encantou o público com a beleza das paisagens bucólicas da região do Araguaia, onde fica uma das fazendas de Bruno Mezenga. A área é formada por ecossistemas típicos do Pantanal, da Floresta Amazônica e do Cerrado, abrigando extensa diversidade de flora e fauna. A novela contou com a fotografia de Walter Carvalho, um dos mais prestigiados fotógrafos de cinema do país. 

‘O Rei do Gado’ revelou talentos, marcando a estreia na TV de Marcello Antony, Caco Ciocler, Emílio Orciollo Netto e Lavínia Vlasak. A trilha sonora é outro diferencial da novela. Juntos, os dois álbuns da obra garantiram a maior vendagem de cópias de trilhas de novelas até então. A dupla Pirilampo (Almir Sater) e Saracura (Sergio Reis) assinou sete das 12 canções do segundo disco. 

Encabeçar o elenco de uma novela tão importante para a teledramaturgia brasileira é motivo de grande orgulho para Antonio Fagundes até hoje. Em entrevista, o ator relembra o trabalho, curiosidades e bastidores. 

De volta a partir de novembro no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘O Rei do Gado’ tem autoria de Benedito Ruy Barbosa, com colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbosa, e direção geral e de núcleo de Luiz Fernando Carvalho. Direção de Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emilio Di Biasi e José Luiz Villamarim. A novela traz ainda no elenco nomes como Stênio Garcia, Bete Mendes, Mariana Lima, Ana Rosa, Arieta Corrêa, Mara Carvalho, Chica Xavier, Neuza Borges e Guilherme Fontes, entre outros. 

ENTREVISTA COM ANTONIO FAGUNDES 

Como foi a sensação ao saber que ‘O Rei do Gado’, um de seus grandes trabalhos em novelas, será a próxima trama do ‘Vale a Pena Ver de Novo’?     

É maravilhoso saber que vai passar no ‘Vale a Pena Ver de Novo’. A novela continua sendo um grande sucesso, e tenho certeza de que nessa volta ela vai estourar. O público ainda tem uma grande lembrança da trama, e eu acredito que muita gente vai querer acompanhar outra vez.  

O Bruno Mezenga foi um de seus personagens que mais repercutiram com o público, certo? Como eram as abordagens e até hoje as pessoas comentam sobre esse trabalho com você? 

O Bruno Mezenga foi realmente um personagem fortíssimo. Até hoje as pessoas brincam comigo, me chamam de “rei do gado” na rua, e lembram do nome do personagem. Virou uma marca muito forte na minha carreira ter feito esse personagem tão brilhante.  

Como foi o processo de construção para viver um homem que fez fortuna com criação de gado?

Foi muito gostoso, porque passamos um tempo no interior de Goiás, eu conheci e me baseei em algumas pessoas com quem convivi durante o processo de criação. Aquele jeito especial de ele falar na época criou até uma estranheza junto ao público, mas depois acabou sendo incorporado definitivamente ao personagem. Foi muito especial perceber que o público acabou entendendo.  

Relembre um pouco a trajetória do Bruno com a Luana (Patricia Pillar).  

O relacionamento do Bruno com a Luana é um dos pontos fortes da novela, uma sem-terra com um dono de latifúndio, situações que só um autor brilhante como o Benedito Ruy Barbosa sabe fazer. Juntar essas partes talvez irreconciliáveis na vida de forma tão bonita na novela.  

Alguma curiosidade em especial ficou marcada nas suas lembranças dos bastidores?

O que eu me lembro de mais gostoso foi que eu quis fazer as duas fases da novela. Eu disse ao Benedito que eu queria entrar na primeira fase de qualquer jeito, e ele me deu um personagem extraordinário, o Antônio Mezenga, que é o avô do Bruno Mezenga, um italiano que migrou para o Brasil e era dono de uma fazenda de café. Um personagem delicioso, me diverti muito fazendo, e mais ainda sabendo que eu faria a segunda fase da novela.  

Como foi a parceria com a Patricia Pillar e com outros atores do elenco que você mais conviveu durante a novela? 

O elenco era muito especial, tinha gente muito querida. A Patricia é uma companheira de cena fantástica, de uma simpatia, muito carinhosa com todos. Eu tinha também o Stênio (Garcia) como companheiro de cena, já havíamos feito tantos anos de ‘Carga Pesada’, e depois voltamos a trabalhar juntos, foi um reencontro marcante. Bete Mendes também era especial… se eu continuar vou falar o nome de todo mundo, porque eram realmente pessoas maravilhosas.  

Qual a cena ou sequência mais te marcou em ‘O Rei do Gado’?

A sequência que mais me marcou foi a ida do Enrico (Leonardo Brício), filho do Antônio Mezenga, para a guerra. Ele fala que vai para a guerra porque o pai não o deixa se casar com a filha do Giuseppe Berdinazzi (Tarcísio Meira), a Giovanna (Leticia Spiller), e essa cena é linda. O filho indo para o portão, com o pai e a mãe desesperados na fazenda. Gosto muito de lembrar dessa cena.  

De que forma essa novela marcou sua carreira?  

A novela, como eu disse, me marcou para o resto da vida. Eu sou o ‘rei do gado’ para muita gente ainda hoje, principalmente pelas questões que ela levantou. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro: ‘El Rey del Ganado’ na América do Sul, eu fui reconhecido na Rússia, na Hungria… foi uma novela que explodiu no mundo inteiro, sempre muito bem recebida.  

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