Eu Lucas Borges, hoje faço um análise com vocês de um clássico que tem livro e filme.
“O Menino do Pijama Listrado”
Protagonizado por duas crianças: um menino judeu, Shmuel, preso em um campo de concentração, e o menino Bruno, filho de pai nazista. Ambos possuem a mesma idade – nove anos – e coincidentemente nasceram no mesmo dia.
A narrativa começa quando o pai de Bruno, um oficial nazista, é transferido e a família deixa para trás a casa enorme onde vivia em Berlim e rumo ao campo.
A família do garoto era composta por quatro integrantes: Ralf (o pai), Elsa (a mãe), Gretel (a filha mais velha) e Bruno (o filho caçula).
A casa nova, menor, com três andares, ficava isolada num lugar vazio e desabitado, teoricamente situada em Auschwitz, embora o nome Auschwitz jamais seja citado ao longo do texto.
Bruno, sempre com um olhar ingênuo e puro sobre o que se passa, fica desapontado com a mudança e questiona a mãe acerca da escolha tomada pelo pai:
“Não temos o luxo de achar coisa alguma”, disse a mãe, abrindo a caixa que continha o jogo de sessenta e quatro taças com o qual o vovô e a vovó a haviam presenteado por ocasião do casamento com o pai. “Há pessoas que tomam todas as decisões em nosso nome.” Bruno não sabia o que ela queria dizer com isso e fingiu que a mãe nada dissera. “Acho que isso foi uma má ideia”, ele repetiu. “Acho que o melhor a fazer seria esquecer tudo isto e simplesmente voltar para casa. Podemos considerar que valeu como experiência”, acrescentou ele, frase que aprendera recentemente e que estava determinado a empregar com a maior frequência possível.”
A vista do novo quarto de Bruno dava para uma cerca, onde o garoto podia ver uma série de pessoas vestidas em uniformes listrados, que ele julgava serem pijamas.
Embora a família não soubesse, a mudança de Ralf, o pai, aconteceu porque o oficial deveria assumir o comando do campo de concentração.
Durante um dos passeios que deu nos arredores da casa, Bruno conhece Shmuel, um menino com quem trava forte amizade mesmo apesar de ter uma cerca os separando.
A relação se fortalece cada vez mais, Bruno encontra no menino judeu seu único amigo na região e Shmuel encontra em Bruno uma possibilidade de escapar da sua realidade terrível.
Aos poucos, Bruno descobre a profissão do pai e percebe o que acontece ao redor da sua casa.
Shmuel um dia se desespera por não ter notícias do pai e, para ajudar o garoto, Bruno veste um pijama listrado e consegue entrar no campo de concentração.
O resultado da história é trágico: Bruno é assassinado ao lado de Shmuel assim como todos os outros judeus que se encontravam no campo.
A família de Bruno fica sem notícias do garoto e entra em desespero, especialmente o pai, que sabe internamente ser culpado pela morte do filho:
O pai ficou em Haja-Vista por mais um ano depois daquilo e acabou sendo hostilizado pelos outros soldados, nos quais mandava e desmandava sem escrúpulos. Todas as noites ele dormia pensando em Bruno e quando acordava estava pensando nele também. Um dia ele formulou uma teoria sobre o que poderia ter ocorrido e foi novamente até o ponto na cerca onde as roupas haviam sido encontradas um ano antes.
Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas então ele explorou um pouco e descobriu que naquele ponto a parte de baixo da cerca não estava tão bem fixada ao chão quanto nas demais, e que, quando erguida, a cerca deixava um vão grande o bastante para uma pessoa pequena (como um menino) conseguir passar por baixo rastejando. Ele olhou para a distância e seguiu alguns passos lógicos e, ao fazê-lo, percebeu que as pernas não estavam funcionando direito – como se não pudessem mais manter seu corpo ereto – e acabou sentado no chão, quase na mesma posição em que Bruno passara as suas tardes durante um ano, embora sem cruzar as pernas sob si.
É poético como ao voltar para o lugar onde o filho passou tanto tempo, Ralf se coloca na mesma posição que o garoto e sente na pele aquilo que o menino sentia, enxergando a mesma paisagem sob o mesmo ângulo.
Ao se dar conta do ocorrido, da cerca danificada capaz de deixar passar um menino, o oficial percebe que o veneno que destilava diariamente contra as vítimas do campo de extermínio alcançou a sua própria família.
Ciente de que nenhuma atitude poderia trazer a vida de Bruno de volta, Ralf se entrega à tristeza:
Alguns meses mais tarde alguns soldados vieram a Haja-Vista, e o pai recebeu ordens de acompanhá-los, e foi sem reclamar, contente de ir com eles, pois não se importava com o que lhe fizessem agora.
Apesar de abordar um tema super pesado, o autor John Boyne tem o mérito de transmitir a história a partir do olhar puro e ingênuo de crianças, o que ameniza a aridez do assunto.
Criado inicialmente para ser um livro infanto-juvenil, O menino do pijama listrado acabou por se tornar um clássico que seduz as mais diferentes gerações pois permite diversas camadas de leitura e interpretação.
Apesar de já existirem inúmeros relatos sobre o cotidiano da guerra, essa narrativa se diferencia especialmente das outras justamente porque descreve as atrocidades do homem a partir dos olhos pueris de uma criança.
O menino do pijama listrado simultaneamente nos faz ter fé e descrença nos homens.
Testemunhamos as barbaridades autorizadas pelo pai oficial nazista, a frieza da gestão do campo de extermínio. Mas também nos encantamos com a ingenuidade de Bruno, que enxerga nas vítimas do campo apenas pessoas vestindo pijamas as listras.
Bruno percebe Shmuel como um igual, apesar da cerca que os separa e das condições de vida completamente distintas.
Embora o seu cotidiano seja marcado por uma família presente e uma situação financeira confortável, – condição absolutamente impensável para Shmuel – eles tratam-se com igualdade, respeito e compreensão.
A amizade dos dois meninos supera barreiras religiosas, sociais e políticas.
Até o próximo “Você Se Lembra?”
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