Pesquisar
Close this search box.

CONQUISTE SEU LUGAR NA INTERNET COM SITES PROFISSIONAIS COM 10% DE DESCONTO. CLIQUE AQUI E SAIBA MAIS!

<<  VOLTAR AO INÍCIO

o que é votar para “evitar um mal maior”?

o que é votar para "evitar um mal maior"?

Compartilhe este conteúdo!

[ad_1]

No programa Roda Viva, da TV Cultura, o colunista do UOL Joel Pinheiro perguntou ao analista político Steven Levitsky, autor de “Como as Democracias Morrem”, se a atitude de votar em um candidato da terceira via —ou qualquer outro com pouca chance de vitória— no primeiro turno e depois votar em Lula no segundo seria uma atitude inconsequente.

O pesquisador norte-americano respondeu que não considerava a atitude como inconsequente ou irracional, mas como um gesto arriscado. No seu entender, Bolsonaro fará de tudo para deslegitimar o resultado das eleições e uma derrota em primeira instância, por uma margem substancial, deixaria claro que as pretensões de golpe teriam baixo respaldo argumentativo.

De fato, o comentário de Levitsky segue um argumento conhecido em retórica como “a evitação do mal maior”. Em nome do pior e contra o pior tendemos a renunciar a nossas primeiras e mais óbvias inclinações.

Mas este argumento pertence à classe dos que confiam na segurança como um princípio fundamental da razão. De fato, para uma classe média que se sente ameaçada a ponto de flertar com o fascismo, falar em nome da segurança geral parece estrategicamente correto.

Mas se poderia objetar com outra classe de argumentos, conhecida como argumentação por graduação, ou seja:

  • Hoje começamos cedendo aos nossos princípios e escolhas, em função das contingências e razões maiores, e com o passar do tempo vamos nos desapegando destes princípios até que, primeiro vão os anéis, depois os dedos e de repente não temos mais braços para erguer em oposição a continuidade do processo.

Curiosamente este é um argumento típico dos conservadores, aquele que termina sempre com: “seguindo assim, onde vamos parar?”

Parece óbvio que o ponto de parada é a autoridade constituída e que, em regra geral, se começamos a mudar as coisas, cedo ou tarde, acabaremos em bagunça e desordem.

Muitos críticos do petismo, mas que partilham o campo progressista, murmuram ou pensam silenciosamente uma combinação invertida destes dois argumentos, ou seja: percebendo certas incorreções nos governos Lula e Dilma, mas olhando para o lado e reconhecendo que as alternativas eram tão piores, tampavam olhos, ouvidos (e às vezes narizes).

Isso certamente concorreu para a formação de uma polarização, mas não foi pelo uso do “nós” contra “eles”, afinal toda argumentação democrática presume este tipo de divisão.

O problema é que isto confirmou uma percepção social de que certas pessoas se tornariam imunes a qualquer crítica, o que levanta um outro tipo de “eles”, ou seja, “os irracionais com quem não se pode conversar pois são refratários aos argumentos”.

Este argumento é péssimo pois equaliza militantes e crentes, corruptos e fascistas, erros mal-intencionados e erros bem-intencionados, vilania e imperícia, elite tosca e elite progressista, barbárie e civilidade.

Mas não é isso um modelo invertido de democracia? Todos iguais, pois são todos capazes de gritar, oprimir, barbarizar, lacrar, excluir e violentar as leis.

Surge assim uma versão bastante estranha de liberdade, uma versão cada vez mais circulante nas imediações das urnas.

Chegamos assim em outro tipo de argumento, conhecido como autoconfirmação performativa.

Este é o caso de “vamos jogar cara ou coroa?” Mas as regras são as seguintes: cara eu ganho, coroa você perde.

Duas posições são apresentadas falsamente como se fossem diferentes, com o objetivo de vencer sob qualquer cenário ou circunstância.

Aliás este é o argumento está escondido por trás de toda enunciação autoritária: dou a você alternativas, desde que você aceita que quem faz as regras do jogo sou eu.

Muitos votos brancos e nulos se acumulam em torno deste tipo de argumento

Não quero pensar no “menos pior” nem quero saber de falsos argumentos mentirosos. Na verdade, quero outras regras para o jogo. Como não tenho força ou autoridade suficiente para isso, e como gradativamente fui renunciando às minhas verdadeiras crenças neste estúpido jogo democrático, agora me sinto traído. Protesto contra a existência disso tudo que está aí.

O que o argumento reativo mistura em duas vozes no mesmo acorde: protesto contra políticos mentirosos e governos lenientes ou protesto contra o próprio jogo democrático?

O senhor espertalhão escolheu a segunda alternativa para criar nos últimos quatro anos uma democracia de baixa intensidade, customizada para uso miliciano, ao custo de milhares de vidas que você está livre para escolher como quer contar: pelo excesso de armas ou pela falta de vacinas.

Conhecemos uma versão particularmente ignóbil do argumento por contágio, ou seja, sabemos que as pessoas podem ser influenciadas de modo desonesto por fake news, correntes de WhatsApp e demais manipulações digitais, pois sofremos na pele os efeitos e o poder desse tipo de truque nas últimas eleições presidenciais.

Ora, se é possível manipular o mundo digital desta maneira, porque não seria possível algo análogo com um instrumento digital muito mais simples, como, digamos, urnas eletrônicas.

Este golpe é tão antigo quanto o conto do vigário: primeiro você diz para a pessoa que ela está sendo enganada (escondendo que foi você mesmo que produziu o “engano”) e depois você se oferece para resolver a enganação.

Por isso o truque sempre acontece em duas etapas: criar pânico, vender segurança.

Dizer que sua senha foi roubada é a forma mais fácil de fazer você entregar a verdadeira senha.

A evitação do mal maior pode cegar as pessoas e criar falsas alianças, simplesmente invertendo o antipetismo em antibolsonarismo.

O contexto de demonização, desumanização e a distância favorecem a conversa curta e rápida, como convém a relação de ordem e obediência. Qualquer crítica será então defletida em: … e o PT, heim? E assim voltamos ao argumento do mal menor, às disputas sobre quem matou mais, quem roubou mais.

Quem está meio de lado, sonhando com a terceira via, assiste a disputa entre a alma mais hipócrita e arrogante contra o coração mais autenticamente tosco e feito de lata.

Chegamos assim ao argumento da substância ou estrutura do real: todos os políticos são iguais, duas faces da mesma moeda.

Não vai adiantar dizer que a cara é feita de pau “imbrochável”, envelhecido em óleo de peroba, e o coroa é garantido pelo Banco Central de Curitiba.

Não vai adiantar dizer que falta escuta, empatia ou honestidade de parte a parte, nem que estamos presos em um daqueles filmes de ficção científica onde o personagem se divide em dois: o bondoso-compassivo-indeciso e o outro corajoso-agressivo-descontrolado.

Não, o Brasil não precisa e nem aguenta um “Lulonaro”. Eles não são feitos da mesma matéria-prima, nem do mesmo estofo.

Mas voltemos ao argumento de Levitsky.

Será mesmo que a melhor justificativa para votar em Lula logo no primeiro turno é o fator risco de golpe?

Por que terceira via, independentes, seguidos de brancos, nulos e indecisos deveriam renunciar a seus gostos particulares, em nome de um bem maior, que é a democracia segura para todos?

Deixo aqui a pergunta para que o eleitor consequente encontre sua melhor resposta.

[ad_2]

UOL

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

MAIS ACESSADOS:

PUBLICIDADE: